segunda-feira, 8 de março de 2010

Infância na DDR


Desde que cheguei aqui já ouvi diversos relatos de como era a vida na antiga DDR, desde coisas boas até privações e necessidades. Não sei como os coitados dos alemães não se cansam de responder essas nossas perguntas: é verdade que faltavam bananas? Em que você gastou o seu Begrüßungsgeld (dinheiro que os cidadãos da Alemanha Oriental receberam na porção ocidental em 89)?, você se lembra da queda do muro? Como o ocidente chegou para você? Era melhor ou pior? As dúvidas são inúmeras e as respostas sempre diferentes.  Mas pacientemente todos eles sempre nos relatam alguma coisa interessante.

Há mais ou menos três semanas conheci uma alemã super simpática, nascida na Turíngia e estudante  da Humboldt aqui em Berlim. Apesar do seu português afiadíssimo (ela morou em Brasília), quando perguntei sobre a DDR ela me pediu para responder em alemão e disse “ah, isso é muito complexo”. Ela é minha tandem e por isso passamos horas a fio matracando sobre os mais diversos assuntos. Apesar da Eva ter vivido na DDR somente até os cinco anos ( logo depois o muro caiu), ela tem bastantes recordações de sua infância. E o barato é que durante os relatos  ela não coloca reflexões adultas e já politizadas sobre o tema.

Em um dia de muito calor (que são de certo modos raros na Alemanha), havia chegado frutas na loja da cidadezinha onde ela morava na Turíngia. Segundo ela, não era possível escolher a fruta. Era preciso entrar na fila e aceitar o que o dono da loja te oferecesse. Tipo pegar ou largar. Mas mesmo assim o momento era de grande entusiasmo. Embaixo do sol de verão (não sei porquê, mas a imaginei de chapéu para proteger o rosto) e acompanhada de sua mãe, ela enfrentou a fila como gente grande. Não foi só a fila, foram quase quatro horas de espera, em pé, debaixo de sol e calor. Mas a recompensa parece ter valido a pena. “Nós recebemos uma melancia enorme”.  


Na verdade não sei o quão grande era de fato a fruta ou o quão pequena era a Eva, mas de qualquer forma era uma melancia e uma criança de cinco anos. Claro que o prêmio caiu das mãos dela e rolou ladeira abaixo. Não teria nenhum problema na verdade, se um carro não tivesse vindo na mesma direção, passado por cima e espatifado toda a melancia. “Minha mãe ficou muito muito brava”. Não sei o que é pior, enfrentar o descontentamento materno ou ficar sem a tão aguardada fruta em um dia quente de verão. Eva me contou isso dando boas gargalhadas, o que me deu a impressão de que trata-se no fundo de boas recordações infantis. Mas também o muro caiu em seguida e com certeza ela comeu muitas outras melancias ao longo da vida. 

3 comentários:

Fernanda disse...

Re,

O q vem a ser uma tandem???

alias, adorei suas historias cotidianas alemãs! ve se mantem a frequencia nos posts pq eu to adorando ler!

Um super bjo
Fernanda

joão disse...

Regina, tem certeza que essa foto aí de cima não é mais uma daquelas suas 'únicas' de infância? hehe
Vc tá pirando na cultura alemã, estou adorando isso! Parabéns, beijo!

Pekuliaridades disse...

Ah, tandempartner é uma pessoas que quer aprender sua língua e você a dela. A Eva corrige meu alemão e eu o português dela. Assim as duas aprendem. Costuma ser legal!