quinta-feira, 26 de abril de 2012

Esquisitices infantis


Estava aqui matutando coisas que adorava fazer quando era criança, hábitos deixados para trás sejam lá por quais motivos. Culpa, possivelmente, do mal de se viver em civilização. Entre as minhas atividades favoritas no pré (sim, ainda existia o tal pré na escola “Moranguinho”) era a caça às joaninhas. Havia muitas nos jardins laterais da piscina. Eu gostava tanto (e ainda gosto) das redondinhas vermelhas de bolas pretas que as queria todas para mim. Colocava-as todas dentro do recipiente retangular do apontador de lápis, até que ele ficasse cheio. Uma pequena maquiavélica! Ficava irritada porque elas se debatiam para voar de volta ao jardim e tampava o frasquinho com o apontador. Algumas morriam esmagadas no procedimento, mas a perda era compensada pelas que sobreviviam e perambulavam presas conforme meu desejo. Colocava-as dentro do meu estojo, as deixava lá trancafiada por algumas horas até ser arremetida por um lapso de vontade de retirar a base do apontador. Elas sempre iam embora e me deixavam intrigada. Afinal, eu as tinha protegido tão bem e elas ingratas voltavam todas para casa! Hoje, toda vez que vejo uma joaninha lembro dos meus conflitos infantis com elas. Ok, confesso. Brinco um pouco com as bundudas em minhas mãos, me pergunto se eu matei alguma de suas ancestrais, mas logo abro a janela para que voem pra bem longe, para onde quiserem. Algumas insistem em ficar para o meu espanto.
Mudança que hoje me faz lembrar da tal “metamorfose ambulante”. Essa coisa estapafúrdia aí que aos meus ouvidos infantis nos anos 80 soava qualquer coisa muito ruim. Mas também o que poderia se esperar de um barbudo esquisitão com cara de comuna estampada nas capas dos discos? Descia para praia de carro com meus pais e tios ouvindo (acho que só poderia ser fita, ou já existia carro com CD?) a tal música e sempre me arrepiava de medo “daquela velha opinião formada sobre tudo”. Uma velha tipo a minha bisavó Abigail, que na minha imaginação era intrometida, mandona e dava sua ultrapassada opinião formada sobre tudo. E sei lá porque raios a senhora aparecia sempre numa cadeira de balanço. Pior é que quando eu assistia o “Fantástico Mundo de Bob” achava o menino meio estúpido.
 Tudo bem. Devo desculpas às joaninhas e a bisa Abigail. Um “foi mal” também seria apropriado a algumas amigas. As persuadia a competirem comigo em uma corrida de bunda escada abaixo. Algumas vezes usávamos um papelão para escorregar, mas a técnica foi se aprimorando tanto, que colocávamos meias-calças e dava um impulso tão grande que só conseguíamos mesmo parar no último degrau, muitas vezes com as pernas roxas. Subi as escadas do meu prédio hoje até o quarto andar e pensei que a brincadeira seria bem mais interessante por aqui. Mas ainda não ousei recolocar o hábito em prática, afinal o que pensariam os alemães de uma brasileira de meias calças descendo as escadas de bunda?
E aí, alguém se habilita a contar hábitos estranhos da infância? 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Bósnia-Sarajevo: Infância na Guerra

Esse moço aí da foto é o Adnan Zuka. Estudante de literatura inglesa e guia turístico em Sarajevo. Dia 06 de Abril foi seu aniversário. Ele completou 25 anos. Chegamos cerca de 9h30 à agência “Insiders”, ele estava abrindo o local um pouco agitado, sorridente, enquanto olhava para o céu e via os helicópteros sobrevoarem a cidade. “Terá tour hoje?”, perguntamos. “Acho que sim, apesar desses helicópteros”. Olhamos intrigados um para o outro, mas Adnan virou as costas, tirou uma bandeja de bolo , copos e refrigerantes da bolsa e colocou sobre o balcão. “Voltem às 11h, quando começa o passeio”, ele aconselhou. Mas antes, como fomos os primeiros turistas a aparecer por lá, tivemos a honra de saborear um pedaço da torta. “É meu aniversário”, confessou. E também o dia em que a guerra da Bósnia começou há 20 anos. Perguntei se ele se lembrava de alguma coisa e ele respondeu contundentemente, na lata: “claro, foi bem no meu aniversário”. Todos que entravam na pequena sala, a procura dos passeios, eram convidados a celebrar a data com ele. Razões não lhe faltavam.
Assim como muitas crianças da época, Adnan teve uma infância perdida. O saldo no fim do conflito foi de 1.620 crianças mortas e mais de 15 mil feridas. Os dados são do museu de história de Sarajevo. Ele narra durante a visita como era difícil ter de viver nos porões e o que os pais tinham de fazer para convencer os filhos do quão perigoso era lá fora. Ele visitou a escola durante a guerra, locais improvisados, subterrâneos. De um planalto, em frente às ruínas medievais da cidade, ele aponta cada montanha nos arredores da capital e explica em detalhes como os sérvios tomaram o local. De tempos em tempos a gente perguntava coisas bobas, óbvias e ele respondia com naturalidade. Como as pessoas faziam para se aquecer? “A gente dava um jeito, as pessoas começaram a queimar livros, tapetes, embora como ficávamos em grande número nos porões, o ambiente era mantido aquecido por algum tempo”. Segundo seus relatos, até sopa de grama entrou no cardápio.

Ao longo do passeio ele deixava escapar uns flashes de memória. “Eu passei uma vez pelo túnel com meus pais para carregar água”, lembra. O tal túnel foi responsável pelo abastecimento da cidade durante os três anos. Era a forma mais segura de levar alimentos e ajuda humanitária que chegava ao aeroporto, sob domínio da ONU, até a única montanha sob domínio dos Bosniaks (islâmicos da Bósnia). O motorista, um ex-soldado, atravessou o túnel, umas 15 vezes. Só para constar. Trata-se de um lugar abafado, estreito, com cheiro de umidade  e (pasmem!) cavado manualmente! Hoje só sobrou alguns metros, revestido com madeira para deixar a passagem um pouco mais confortável em relação àqueles tempos. Enquanto assistimos um filme no museu do túnel, ele olha pela janela para o lado de fora cada vez que chega ou sai um avião. O memorial fica bem atrás da pista do aeroporto. “É só um avião”, diz.

Mesmo dentro do veículo, ele fala com energia, entusiasmado em contar a história da sua cidade. Não escapa sequer um detalhe, cada prédio, cada bairro. De vez em quando, troca frases com o motorista em bósnio e traduz para gente com um inglês impecável. “Isso eu não me lembro direito porque era muito criança, mas nosso motorista disse”...  No fim do tour, tira foto com o grupo, troca endereços no Facebook e sai correndo para não atrasar o próximo grupo que já o espera para a próxima partida.  “Parabéns e aproveita o restinho do dia”, dissemos na despedida. “Claro, é meu aniversário!”, respondeu nosso talentoso guia. 

domingo, 15 de abril de 2012

“Nós abortamos”


Aos 14 anos, eu achava que a pena de morte fazia mais sentido que um aborto. Afinal, um bebê é inocente e um assassino não. Tive coragem de dizer tamanha besteira em rede nacional no programa do Serginho Groisman. Grupos de jovens, mais velhos que eu, não se conformaram (com razão, assumo) com minha declaração simplista. Todo esse preâmbulo aí é só para deixar claro que as pessoas pensam, repensam e mudam de opinião. E tá mais que na hora do Brasil mudar! Achei graça quando Daniel Cohn-Bendit, o símbolo da revolução de 68 e do amor livre na França, assumiu seus três maiores equívocos em entrevista à revista Der Spiegel (Ed. 14/2012). Um deles foi a sua “infantil aversão ao casamento”. Atualmente,  ele vive há 30 anos com a mesma mulher.  Mas agora chega de digressões e vamos ao ponto. 

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Sempre uma primeira vez!


Pra tudo na vida, como diz meu título aí em cima, existe uma primeira vez! Até semana passada, com quase trinta anos, eu nunca tinha colocado os pés (ou melhor, o traseiro) numa Business Class. E quem me conhece, sabe bem que eu não desembolsei nem um centavo por isso. Mesmo que eu tivesse a grana, não pagaria. Acho (desculpe os mais abastados) uma afetação. Ta bom! Com exceção daqueles que precisam realmente dormir no desconforto de um avião para trabalhar no dia seguinte ou que têm algum problema de tamanho ou saúde.
Eu gosto mesmo é de voar de Easy Jet, Ryanair, German Wings ou qualquer outra lata velha que voe. É mais emocionante. Pelo mesmo motivo também não gosto de andar de táxi durante as estadias. Pois então. Eu que sempre viajo ouvindo as rifas das raspadinhas promocionais da  Ryanair, com os olhos lacrimejando por causa do ambiente azul-amarelão, dando cotoveladas para conseguir um espaço no bagageiro da aeronave e com calça fusô e aquela belezura dos sapatos crocs para sobreviver ao aperto do ar, fui parar no conforto da Business.
Culpa do overbooking da Lufthansa que quase destruiu meu feriado da Páscoa. Vou pular a parte do chilique e do furdúncio na hora do embarque, afinal como a própria atendente disse “toda companhia vende mais passagens que a capacidade do avião”. É porque ela não voa de Easy Jet. Isso nunca me aconteceu nos teco- tecos. Apesar de bem contente com o pedido de desculpas da companhia, fiquei pasma ao ver o avião decolar com as tais cadeiras vazias na Business (aquelas destinadas ao nosso conforto, só para o apoio de casacos e bolsas) e gente lá no aeroporto esmolando por um assento. Momento jeca-tatu: eu nem sabia que na Business a poltrona do lado fica mesmo vazia, somente com uma etiqueta “para o seu conforto”.

 Quase chamei a aeromoça para dizer que eu não me importaria se alguém atrapalhasse o meu bem-estar ali do lado. Bom, depois que todos nós estávamos acomodados e a aeronave partiu, percebi que o meu lanchinho ia ser deveras mais incrementado. Para um vôo rápido de uma hora, salmão defumado com cream cheese, cuscuz marroquino com groselha seca, omelete com presunto parma e mousse de chocolate. Momento jeca-tatu 2: tudo de louça, porcelaninhas brancas. Nada daquela quentinha de alumínio com tampa de papelão que eles dão aos pobres mortais! E sem a retórica: “massa ou carne”? O melhor de tudo é ser o primeiro a desembarcar sem ter que ficar batendo a cabeça para resgatar a mala de mão.
Algo atípico aconteceu nessa viagem. Depois disso tudo, ainda fomos para o hotel de traslado. Calma. Antes que alguém atire a primeira pedra (afinal, eu sempre digo que translado é a maior queimação de filme), o hotel oferecia o serviço de graça e não há trens ou linhas de ônibus que liguem o centro ao aeroporto. E entre pegar uma carona gratuita ou pagar um táxi....
Voltei para casa de classe econômica. Nem as “quentinhas” serviram. Só um croissant frio, de queijo....Eu queria ter tirado uma foto das loucinhas brancas pra deixar aqui no post, mas não quis dar na cara que não estava habituada a tanto mimo!  Essa aí de cima não foi clicada com a nossa máquina.
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Obs.: dedico o post a um amigo do meu tio que chamaria isso de atitude proletária da juventude. Pena que não deu tempo dele ouvir isso para poder fazer piada!  


quinta-feira, 12 de abril de 2012

A polêmica Günter Grass


Desde semana passada, quando o prêmio Nobel de literatura alemã publicou seu poema “was gesagt werden muss” (o que deve ser dito) no caderno de cultura do jornal “Süddeutsche Zeitung“, a poeira não baixa e o autor não deixa mais as páginas do jornal do mundo inteiro. Pensei até em traduzir o poema, mas acabei encontrando duas boas versões em português, no site da Revista Cult e de um grupo pró-Palestina. Tem momentos em que a situação é tão complicada que é melhor ficar quieto e só observar. A questão Israel-Palestina é uma delas. Eu sempre tive a impressão que é muito difícil criticar a política de Israel aqui na Alemanha sem ser chamado de anti-semita. Acontece o tempo todo com os grupos de esquerda (die Link), por exemplo. Pra mim, que cresci e estudei no Brasil, a crítica não faz o menor sentido. Como grupos de esquerda podem ser anti-semitas? O mesmo tem acontecido com Günter Grass. Não sei se posso chamá-lo de um “ícone da esquerda alemã”, mas meu primeiro contato com o autor foi por conta dos seus textos sobre a reunificação do país. Acusado pela revista “Der Spiegel” e seu ex-chefe de redação Rudolf Augstein de ser contra o processo político da época, Grass defendia uma reunificação menos acelerada para que os grupos de oposição na Alemanha Oriental tivessem tempo de se consolidar. Assim como Habermas, ele não achava democrático a RDA ser anexada à Alemanha Ocidental. Em seu livro- diário de 1990, Grass relata todo o processo com um olhar digno em relação à história dos cidadãos da Alemanha oriental. Mas essa é uma outra discussão.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Um outro olhar (2)


Por que as pessoas não podem ser enterradas em um vale? Essa pergunta deveria ser respondida num post anterior  quando contei as esquisitices que já presenciei em cemitérios: http://pekuliaridades.blogspot.de/2012/03/um-outro-olhar.html. Mas à época ainda não tinha deparado com tal questionamento do cronista Miljenko Jergovic em seu livro “Sarajevo Marlboro”. Também não havia visitado a capital da Bósnia- Herzegovina e escalado montanha acima para lembrar do texto e refutar a ideia inicial de que o autor é um "xarope".
Os cemitérios em Sarajevo ficam, em geral, nas montanhas que circundam a cidade. A vista é sempre muito bonita. Lá de cima é possível narrar toda a vida do falecido e apontar tudo o que aconteceu: a padaria que ele trabalhava no bairro de Grbavica, a casa em que morou com a esposa em Kovacici e outras peripécias vivenciadas na região. Assim, somente as crianças, que não tem uma longa história de vida a ser contada ou trapaceiros e ladrões que precisam esconder seus feitos são enterrados no vale. Observação que só faz sentido mesmo para a geografia de Sarajevo. Então tá!.
Eu não ando perseguindo cemitérios, mas é que há tantos na cidade que é praticamente impossível não parar em um deles. As campas também são ligeiramente diferentes. Nunca estive num cemitério islâmico e apesar de detestar tumbas, achei o retângulo branco com uma pequena pirâmide em cima relativamente bonito (Foto). Mas estranho mesmo é perambular pelas tumbas e ver que praticamente todo mundo morreu entre 1992 e 1995, durante a guerra da Bósnia. Só em Sarajevo foram 11.541 vítimas. É uma imensidão de túmulos com essa data. E como não havia espaço suficiente, as tumbas foram cavadas em parques e até mesmo estádios de futebol. As passagens do Alcorão cravadas na pedra são às que se referem aos mártires. 
Hoje os Bosniaks já podem subir as montanhas e contar a história de seus mortos, apontando os pontos da cidade. Durante a guerra até mesmo a cerimônia de sepultamento era complexa. Quem quisesse enterrar seus amigos e familiares tinham de fazê-lo à noite para não ser atingido pelos atiradores de elite escondidos nas montanhas. Para todas essas 11.541 pessoas que repousam sobre as montanhas de Sarajevo, ocorreu um concerto no dia 06 de abril (sexta-feira passada), data em que começou o conflito há vinte anos. Não dava para ver ninguém nas 11.541 cadeiras em frente ao palco, mas vai saber se elas, de fato, não estavam por lá! 


terça-feira, 3 de abril de 2012

Entre Sérvios e Croatas


Já estou queimando a caixola há duas semanas para entender o imbróglio na Bósnia antes de aterrissar por lá - as duas instâncias administrativas, a supervisão internacional, o acordo de paz de Dayton e o sentimento entre croatas, sérvios e islâmicos. Esta é deveras a pior parte! E “entender” foi mesmo um termo presunçoso. Já desisti. Se nem eles mesmos depois de séculos de convivência (do Império Otomano, ao Austro-Húngaro até a extinta Yugoslávia) tem lá as suas dificuldades... Vamos dizer que estou tentando ter uma ideia do que se passa. Independentemente do termo para a minha inspeção, achei, imersa entre filmes e livros, uma crônica do escritor Semezdin Mehmedinovic, no seu livro Sarajevo Blues, que relata algumas lembranças da guerra (1992-1995) bastante marcantes.
O autor, exilado político nos Estados Unidos desde 1996, afirma contundentemente que “a guerra começou em um domingo”. Ele explica. No dia do descanso semanal ele jogava bola com os amigos. A pelada era um ato religioso. Mas, exatamente naquele domingo, um dos camaradas não compareceu. Ninguém deu muita importância ao fato e o time entrou em campo como sempre. Depois, como de costume, reuniram-se para tomar cerveja até o horário permitido pela partida do último ônibus. A jornada deveria ser curta se não fosse por um grupo de encapuzados parar e invadir o veículo. No meio do tumulto, ele reconhece o amigo, aquele mesmo que não deu as caras na pelada, e atônito pergunta: “ Sljuka, é você”? Antigos parceiros de futebol, adversário na guerra.
No outro dia, o caso era transmitido pela televisão e Mehmedinovic ouvia as declarações de Radovan Karadzic. O impronunciável nome refere-se mesmo ao líder do partido nacionalista sérvio, médico psiquiatra e também (pasmem!) poeta. O autor, indignado com as mentiras espalhadas pelos quatro cantos pelo líder do país, foi a estante de livros do filho. Lá estava a obra de poesias infantis de Karadzic. Começou a rasgá-la com toda a fúria, interrompido pelo choro do garoto que não entendia o motivo daquilo tudo e protestava na tentativa de salvar sua obra infantil predileta. 
Mehmedinovic diz conhecer Karadzic do círculo de escritores. Conta como o líder nacionalista não tinha mesmo uma carreira promissora como escritor (com exceção dos textos direcionados às crianças) e lembra de pequenas conversas. Em uma delas Karadzic contava sobre um filme que tinha assistido na noite anterior: “A escolha de Sofia”. Narrava a performance da Meryl Streep em frente ao dilema imposto por um soldado nazista. Um de seus filhos poderia sobreviver desde que o outro morresse. Mehmedinovic se lembrava sempre deste diálogo quando ouvia casos semelhantes ocorrerem em campos sérvios. Não que o autor tivesse muito tempo para recordar as elucubrações do líder nacionalista. Durante a guerra ele estava mesmo ocupado com sua  sobrevivência.
Só para mostrar como a tal limpeza étnica não fazia sentido, o escritor abriu a lista telefônica para procurar registros do sobrenome “Karadzic”. 10 Karadzic(s) eram de origem islâmica, nove vinham da Sérvia e um da Croácia. A irracionalidade da guerra foi mostrada também por uma boa lista de filmes. O mais recente, “Land of Blood und Honey”, em que Jolie estréia como diretora e lota salas na Berlinale 2012, apesar de não ter concorrido oficialmente. A trama mostra o conflito do soldado sérvio Daniel (Goran Kostic) que mantém um relacionamento com a pintora mulçumana Ajla (Zena Marjanovic) em um dos campos para prisioneiras. O filme é bom, apesar de ter recebido inúmeras criticas de entidades da própria Bósnia, que acusou Jolie de manter a clássica dicotomia do conflito:  os sérvios como 100% do mal e os mulçumanos como 100% oprimidos, sem muito contexto histórico.
O vencedor da Berlinale 2006, “Grbavica, The Land of my Dreams” da diretora bósnia Jasmila Zbanic situa a narrativa no pós guerra. Relatos do conflito de uma garota que descobre que seu pai não era um herói de guerra e sim um soldado estuprador. Deixarei uma listinha de filmes sobre a Guerra da Bósnia e o quão intenso o conflito ainda está presente por lá, conto na volta!

Storm (2009), de Hans-Christian Schmid.
Grbavica, The Land of my Dreams (2006), de Jasmila Zbanic.
Gori Vatra (2003), de Pjer Zalica.
No Man´s Land (2001), de Danis Tanovic.
Land of Blood und Honey (2012), de Angelina Jolie.