quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Eu nunca....


Não, não se trata de um post confessional. Bom, não exatamente como podem imaginar algumas mentes mais maliciosas. Trata-se de coisas que jurei nunca mais fazer na minha vida, mas de repente, assim plötzlich, como dizem os alemães, lá estava eu na contra corrente das minhas convicções. Calma, não é nada sério. Fiz uma lista mental dessas coisas outro dia, antes de dormir (não, não tenho insônia e, sim, sou aficionada por listas estranhas). A afirmação mais bocó e inocente, que há muito tempo foi para o ralo, devo ter feito mais ou menos aos 4 anos. Como ia ao balé toda terça e quinta, chegava um pouco mais tarde que o normal na sala de aula no jardim da infância. E eis que só havia espaço livre nas mesinhas quadradas onde estavam os meninos. Passava a tarde sem abrir a boca, para não dirigir a palavra aqueles seres que considerava chatos, estranhos e bobos. Sem comentários. As coisas mudaram... Ops, não assim tão rápido. Mas logo passei a estabelecer algum diálogo com o sexo masculino, nem que fosse para xingá-los.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Circuncisão, brincos e sexo com animais


Antes de qualquer coisa, não que eu não goste de discussões. É importante trazer sem tabus todos os temas à mesa, mas confesso que, às vezes, me espanto com os debates na mídia alemã. Não só na mídia, na própria sociedade. Vamos lá. Alguém já se questionou como pode ser anti-democrático furar a orelha da sua filhinha recém-nascida? Eu tenho orelhas furadas, agradeço aos meus pais e não sou traumatizada por isso. Adoro passear por aí, exibindo meus penduricalhos. Pois então. Outro dia um alemão questionou esse comportamento dos pais do Sul da Europa e América Latina. Afinal, como a gente pode interferir no corpo da criança (um inocente furinho nas orelhas) sem ela ser capaz de intervir, dar sua opinião ou escolher? Moral da história. Se a menina quiser usar brincos, ela que deve decidir passar pelo procedimento ao crescer. É a mesma lógica do batismo. Muitos não são submetidos ao ato religioso porque os pais não querem influenciar as crenças dos rebentos. Essa decisão só cabe a eles, quando grandinhos e conscientes. Ok, acho a posição até bacana, democrática, embora continue a me impressionar os tipos de questionamentos que surgem por aqui.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Estranho mundo dos negócios


Chegar em Frankfurt durante a feira do livro pode ser um pouco estressante. O evento todo dá uma boa chacoalhada na cidade. São 280 mil visitantes, 9 mil jornalistas de 61 países, além de editoras, tradutores, autores, designers, ilustradores e agentes. Para quem fala alemão, há uma programação enorme, gravações de programas, leituras, apresentações de novos textos literários e  por aí vai. Este ano, no pavilhão de viagem, as discussões sobre blogs de turismo e conteúdos para aplicativos renderam boas discussões. Foi por ali que vi pessoalmente, pela primeira vez, o Cohn Bendit, líder estudantil de 68 e hoje presidente do Partido Verde no Parlamento Alemão. Lá estava ele, polêmico como sempre, falando  do seu novo livro “Para a Europa” (Für Europa). Aliás, ele até declarou em rede nacional que se aposentará no ano que vem e irá ao Brasil gravar um documentário de como nós, brasileiros, vivenciamos a copa do mundo! Esta eu quero ver.
Por enquanto, parece tudo muito legal. Mas a minha descrição não deve corresponder a de um agente literário. Esses sujeitos fazem uma espécie de RP entre editoras para negociar copy rights. Ficam em mesas, espalhadas simetricamente em um galpão gigantesco, longe de todo o murmurinho agitado da feira, recebendo editoras do mundo todo a cada 30 minutos. Tempo para comer? Coisa de  30 minutos, se o coitado tiver sorte. Ali eles ficam sem luz do sol, das 9h às 18h, cercados por mesas e garrafões de água. Mais ingrato que isso, é ter de apresentar títulos estranhos como um “livro agenda” para anotar os parceiros com que as pessoas dormiram, até com espaços de avaliação para determinadas partes do corpo. Leia-se pernas, bunda e seios! Pois é. Produto de uma editora americana que edita uma porção de coisas rentáveis (ou não) do gênero.
A diferença cultural também é um aspecto a ser levado em conta. As editoras japonesas são bem formais, lhe entregam o cartão de visita com as duas mãos, fazem uma leve reverência com o corpo e mandam uma avalanche de perguntas para a editora que está atrás dos direitos. Legal mesmo é a seriedade do mesmo oriental explicando a narrativa de um determinado mangá com teor erótico. A formalidade é mantida, sem nenhuma piadinha ou risadinhas no canto da boca. Os espanhóis são mais próximos do nosso jeitão. Convidam para um bebericar rápido, prometem mandar o material ao voltar para o país de origem e explicam a correria pré-feira que dificultou a elaboração de um status de venda mais consolidado dos títulos. Nesse espaço, as editoras e seus agentes apresentam seus livros, negociam copy rights e fazem o maior cerimonial do planeta.  São 7.384 expositores que aparecem por lá para cuidar da imagem da empresa e fazer novos contatos. Ao fim do quinto dia, a cara de cansaço e a bolsa embaixo dos olhos dos pobres funcionários é nítida. Mas ainda assim, eles mantém a pose para cuidar da tal imagem. Cada um, cada um.
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Obs.: No próximo ano, o Brasil será homenageado e terá uma grande programação voltada para nossos autores. O país está na moda, ninguém fala mesmo em outra coisa. Bom, assim talvez as pessoas por aqui passem a entender que nossa literatura vai além do Paulo Coelho.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Melhores Pubs em Dublin — Top 5


Escolher os melhores entre os mil pubs existentes em Dublin não é tarefa fácil. Provavelmente cada um dos 1,2 milhões de habitantes da capital têm lá seu pub para chamar de seu e eles não devem concordar entre si. Ainda assim, vai a tentativa, mesmo que muitos locais e turistas discordem da lista.

Oliver St. John Gogarty
A casa é irritantemente turística, milimetricamente pensada para ser tradicional e a comida ainda é cara e ruim. E por que raios o estabelecimento está na minha lista? As apresentações de música e dança irlandesa compensam todas as outras pendengas. Os músicos são ótimos, animados e apresentam  canções de qualidade do tradicional e clássico repertório de Pubs como a “Whiskey in the Jar” (vídeo). Apelidado carinhosamente por mim como o Green Pub, o Gogarty fica bem no Temple Bar (Fleet Str. 58-59). Dentro do pub, há uma estátua do poeta que dá nome à casa! Se a fome apertar, tente a degustação de ostra com Guinness!

Stag´s Head
    Na área da Grafton Street (Dame Ct. 1) esse pub é um dos queridinhos dos estudantes da Trinity College. Construído em 1770, reformado em 1895, a grande “sala de estar”, com decoração marcada por bastantes elementos em madeira, não mudou muito desde a sua última repaginação do século 19.  À noite, jovens com jeitão de estudante (barbas por fazer e pouca idade) lêem o The Irish Times sozinhos, acompanhados por uma pint! Por volta da meia noite é anunciada a venda da última rodada. Pena que só há comida até às 18h.

Porterhouse Brewing Company
    Como o nome já diz, o espaço (Parliament Str. 16-18) é também uma fábrica de cerveja, de onde saem diversos tipo de stouts, porter e ale. É possível até levar umas garrafas para casa. Todo em madeira, dá uma certa invejinha da coleção de rótulos e garrafas da decoração. No cardápio, tortas do dia à moda inglesa e lasanha de abobrinha. Inevitável não lotar à noite, o último andar tem uma vista bonita para o Temple Bar. 

Brazen Head
Esse é um dos pubs mais antigos de Dublin, próximo das extintas fortificações da cidade medieval (Lower Bridge St.). Desde 1198, a casa era uma taverna dos normandos. Hoje em dia, o público é bem mais eclético, estudantes de escola de inglês, turistas e locais. Há diversos espaços, alguns com um quê mais de restaurante, além de uma sala de decoração verde, reservada para sarais e leituras dos clássicos da literatura irlandesa. Para dia mais frios, a lareira da primeira sala é uma boa pedida.
Portobello Pub
  Na região dos grandes canais (South Richmond Str.), na área sul da cidade, o PUB alimenta os trabalhadores da região. De manhã, enquanto alguns encaram o café irlandês (ovos, bacon, salsichas, tomates e feijão com molho), outros já assistem com uma pint em mãos o andamento do Hurling, o esporte nacional, semelhante ao hóquei. Há diversos ambientes, todos decorados em madeira, além de fotos e objetos antigos dos tempos da revolução de 1916, uma pré tentativa de independência.



sábado, 6 de outubro de 2012

Uma carona bem peculiar


Ainda na leva sobre posts irlandeses, resolvi narrar uma carona por aquelas bandas. Não sei dizer com exatidão quem bebe mais, se um irlandês ou um alemão. Acho que alguém deveria escrever uma tese sobre culturas comparadas para verificar quem é melhor de copo. Fato é que apesar de beberrões, os irlandeses são pessoas muito hospitaleiras. Encontramos um velho conhecido, num pub no bairro de Raheny (esse aí da foto), que insistiu em nos dar uma carona até o teatro, no centro da cidade. Já estávamos com os ingressos do Dubliners em mãos, quando vimos o Sean, acidentalmente, e acabamos perdendo um pouco a noção do tempo com o bate papo. Assim, muito solícito, ele cismou que nos levaria até o local. 
Resolvi não perguntar que horas ele tinha “aberto o escritório” e começado a entornar as Guinness. A única informação que recebi, após parar no terceiro copo, era que ele conseguia ir até o sétimo! Detalhe sem importância nesse momento. Outro fato que não podemos desconsiderar é que nosso solícito amigo sofreu há anos um acidente de carro e não tem mais um braço. Bom, tecnicamente ele tem, mas não funciona mais. Ficou paralisado como se ele tivesse tido um derrame. Assim, entramos no carro rindo e pedindo para o anjo da guarda dar um reforço, lembrando do ditado popular que Deus olha os bêbados e as crianças. Sim, lá fomos nós de carona com um senhor de óculos, dirigindo com uma mão só, depois de tomar váriaaassss Guinness! O detalhe da direção no lado direito passou até desapercebido nesse instante.  O que a gente não faz pela interação com os locais. Pior foi a observação: “como eu bebi um pouco, vou deixar vocês no ponto de ônibus do centro, mas não na frente do teatro por causa do tumulto”!. God! Se o Sean fosse contemporâneo ao Joyce, ele certamente seria inspiração para uma das histórias!
Como deu pra notar, chegamos vivos e em tempo para a peça!


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Como tirar um pint de Guinness

      Tenho uma confissão a fazer. Mesmo morando quase um ano em Dublin, nunca tinha colocado os pés na fábrica da Guinness, de 1759, um imã de turistas da capital irlandesa. As tarefas do dia a dia acabam nos distraindo e deixamos um pouco o turismo de lado. Assim, ao longo de todos aqueles meses, aprendi a degustar pints em inúmeros pontos da cidade e torcer o nariz para aquelas mal tiradas. Mas nunca havia botado a mão na massa, por assim dizer, tarefa que deixei para minhas goladas mais maduras, alguns anos depois. E essa é a atração mais legal da Guinness Storehouse. Tirar a sua própria stout! Ali são produzidas todos os dias 3 milhões de pints. Ainda em tempo: ao contrário do que muitos pensam, a água da bebida não vem do Liffey, mas sim das montanhas Wicklow, nos arredores de Dublin. Sim, assumo, é coisa de turista, para fazer qualquer irlandês rir, mas a partir de hoje, podemos exibir ao lado da nossa coleção de quase 250 rótulos de cerveja, um certificado de que aprendemos a tirar a bebida perfeitamente! 

     O espaço de visitação é bem legal, mostra todo o processo de produção da marca, a mistura dos ingredientes, a diferença da stout em relação à porter (tecnicamente esta é um pouco mais fraca) e por aí vai. Mas degustar a Guinness tirada por nós mesmos, não tem preço (desculpe pelo chavão). Fizemos a lição de casa e anotamos cuidadosamente todas as recomendações. Aí vai:

1.    A bebida é servida a 6 graus Celsius. Observe se o copo está frio e nunca use um recém saído da máquina de lavar louça. Marcas de batom também são abomináveis.

2.    Incline a pint em um ângulo de 45 graus em relação à bomba, puxe-a para frente e deixe o líquido escorrer. Quando a cerveja chegar na altura da base da harpa marcada no copo (o logo não serve só de propaganda), desincline-o e deixe cair um pouquinho mais de Guinness até o topo da harpa.

3.  Deixe a bebida decantar por alguns segundo. Complete o copo com a cerveja, apertando a bomba para trás (para não sair mais gás). Espere mais um pouco até a Guinness “assentar”.

     
     Todo o processo dura 119.5 segundos. Quase dois minutos! E sim, aqui o ditado popular se aplica: a pressa é inimiga da perfeição! Depois é só degustar os 4,2% de teor alcoólico da Guinness Draught e esquecer das suas 198 calorias (menos que uma pint de suco de laranja, diz a lenda)! Alimenta e não dá ressaca! E para aqueles que não confiam em sua mãos trêmulas, aposte nos Barmans do Gravity Bar, no topo do edifício. É bom de ver e bom de beber! A precisão é tamanha que a espuminha vem até com a harpa demarcada (uma espécie de latte art na cerveja). Deve ser  porque mais perto de Deus, a Guinness tem de ser tirada com muito mais perfeição.






 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Dublin revisitada


Sete anos se passaram desde a primeira vez que vimos o Liffey correr por Dublin. Como estaria a cidade desde que a deixamos? Embora tivéssemos intimidade com aquelas ruas às margens do rio, com aquela chuva fina e brisa gelada, receávamos não encontrar tudo do jeito que deixamos. Afinal, não só as pessoas mudam, as cidades também se transformam. Claro que muita coisa ainda estava lá, do mesmo jeito que James Joyce descreveu no começo do século 20, do mesmo jeito que vimos há longos ou curtos sete anos. A movimentação na Grafton Street, as mesmas lojas e o murmurinho de pessoas na ponte O´Connell, grupos de estudantes em frente à Trinity College e até mesmo os canais. A tradicional hospitalidade irlandesa também não desapareceu. Logo após deixarmos o aeroporto, uma garota de sotaque particular nos deu seu tíquete do transporte público irlândes, válido por três dias. "Estou indo embora, mas ainda tem 24 horas para vocês pegarem os Luas, Darts e ônibus", disse sem tentar vender o passe.
Não fosse a tal garota, talvez não tivéssemos resolvido ir até Howth, um vilarejo portuário ao Norte de Dublin. Costumávamos ir à vila nos finais de semana, passeávamos pelo porto, tomávamos sorvete, olhávamos as gaivotas. Por lá pouca coisa tinha mudado. A sorveteria que trabalhei por dois finais de semana estava pintada de verde e rosa, o mesmo sebo de livros ainda tinha aquele cheiro de pó e o vento continuava cortante ao longo do cais. Na volta, o ônibus 31, sentido Lower Abbey str., passou pelo bairro de Raheny, onde morávamos naqueles tempos. Já tínhamos decidido não ir até lá, pois era uma área distante do centro e não tínhamos muito tempo para sentimentalismos.
 Mas o ônibus circulava devagarzinho por aquelas ruas residenciais, não tão conhecidas pelos guias de viagem. Descemos de supetão. A paisagem estava congelada, as moradias de tijolos avermelhados eram exatamente iguais e não tínhamos mais certeza em qual rua estava a casa que nos abrigou naquele inverno. Um pavimento tortuoso entre as árvores me pareceu familiar. Meus sapatos reconheciam aquele curto trajeto. Caminhei devagar, tentando dar pistas para minha memória enferrujada. Uma placa de jardim marcava o nome da rua: Betty Glen! Era ali! Fomos a passos lentos até pararmos bem em frente a casa. 


Naquele sobrado, há sete anos, uma senhora irlandesa recebia estudantes.  A Dympna levava seu trabalho a sério. O jantar era sempre servido às 18h30, sopa, toastes de alho e manteiga, salada e um prato principal. Até às 20h, ela ficava na cozinha, conversando com os alunos com seu leve sotaque irlandês. Sabia de tudo que se passava no bairro, até mesmo se tínhamos visitado a igreja ou a biblioteca local. Muitas vezes, Sean, seu marido, chegava do pub, abria a porta da cozinha com as bochechas vermelhas de tanta Guinness. "Não sobrou nada para você", dizia ela. Apesar do seu temperamento, nos tornamos amigas. Mostrava fotos da minha família, ela falava mal do seu futuro genro, um sujeito que, segundo ela, só pensava em futebol e era caixa no supermercado Tesco. Quando estava mais eloqüente, até respondia nossas perguntas sobre a independência da Irlanda. Olhava para a porta de entrada da casa, verificava se o marido não estava por perto e arrematava: “o Sean não gosta que eu fale isso, mas, se não fosse o IRA, estaríamos até hoje esmolando por batatas”, dizia. Mesmo adoentada - ela tinha acabado de se tratar de um câncer e ainda usava peruca - a Dympna continuava a lotar o lar de estudantes, apesar da reprovação familiar. 

Olhávamos para a casa e relembrávamos de todos esses momentos. Observamos a janela do quarto onde dormíamos. Dava para ver, apesar do reflexo do vidro, a parte detrás da televisão sobre a mesa. Aparentemente até a disposição dos móveis estava a mesma. Algo me dizia que a Dympna não morava mais lá. Em frente a porta de entrada, folhas amarelas rolavam no chão e denunciavam a chegada do outono. Aquela cena não era comum há sete anos. Uma vizinha abriu a porta, entrou no carro. Cogitamos perguntar sobre os moradores da nossa antiga casa, mas achamos um pouco fora de propósito. Sem especular mais, decidimos tomar uma Guinness no Cedar, um pub bem local, onde íamos durante a semana à noite, para arejar a cabeça depois dos estudos. Lá nós passamos a noite de Réveillon de 2004 para 2005. Dois estrangeiros, há menos de oito horas no país, com um monte de irlandês bêbados, celebrando a chegada de mais um ano!

Ao entrar no Pub, encontramos o Sean, sentado no sofá entre dois amigos, com uma Guinness em mãos (claro!). Ele assistia a final do golfe na TV. Pensamos em ir embora, mas tudo parecia muita coincidência e resolvemos falar com ele. Preparamos bem os ouvidos, afinal o sotaque dele sempre nos deu calafrios (tink, righsch). Ali, no mesmo pub de sempre, ele perguntou estonteado "como vocês se lembram de mim"? Fomos apresentados a todos os locais como os brasileiros que chegaram da Alemanha para revê-lo. Entre uma discussão e outra para ver quem pagaria a próxima rodada, recebemos todas as atualizações do bairro. O barman John foi afastado por problemas de saúde e a Dympna não morava mesmo mais naquela casa!
Eu sabia! Ela nunca permitiria aquelas folhas melancólicas rolando na frente da casa dela. No mesmo mês que voltei para o Brasil, em setembro, ela faleceu. A notícia veio dura e seca. Sem eufemismos como “she passed away”. O marido disse logo, curto e grosso, apesar da voz embargada: “she died”. Embora ela tenha dito que precisasse ir ao hospital naquele período, não esperávamos o pior. Mesmo do seu leito, ela ainda coordenava o jantar, que as filhas tinham de ir deixar para os estudantes na sua ausência. Como contou o Sean, ela foi ao casamento da filha com o fanático por futebol e morreu sete dias depois. Tudo isso em um curto espaço de tempo, durante meu retorno. Jantamos com ele no dia seguinte, em Raheny, onde ele mora já há 60 anos.

Depois da sua morte, a Dympna ganhou mais três netos, Luke, Rebeca e Jessica. Primos dos nossos velhos conhecidos Christine e Steven, agora dois pré-adolescentes. Acho que a Dympna está metida nesse monte de coincidências, talvez lá do céu, organizando o acaso da nossa visita. Dublin estava lá com pequenas mudanças, as eternas ruínas de igrejas medievais, enquanto seus habitantes iam e vinham.


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