Antes de qualquer coisa, não que eu
não goste de discussões. É importante trazer sem tabus todos os temas à mesa,
mas confesso que, às vezes, me espanto com os debates na mídia alemã. Não só na
mídia, na própria sociedade. Vamos lá. Alguém já se questionou como pode ser
anti-democrático furar a orelha da sua filhinha recém-nascida? Eu tenho orelhas
furadas, agradeço aos meus pais e não sou traumatizada por isso. Adoro passear
por aí, exibindo meus penduricalhos. Pois então. Outro dia um alemão questionou
esse comportamento dos pais do Sul da Europa e América Latina. Afinal, como a
gente pode interferir no corpo da criança (um inocente furinho nas orelhas) sem
ela ser capaz de intervir, dar sua opinião ou escolher? Moral da história. Se a
menina quiser usar brincos, ela que deve decidir passar pelo procedimento ao crescer. É a mesma lógica do batismo. Muitos não são submetidos ao
ato religioso porque os pais não querem influenciar as crenças dos rebentos.
Essa decisão só cabe a eles, quando grandinhos e conscientes. Ok, acho a
posição até bacana, democrática, embora continue a me impressionar os tipos de
questionamentos que surgem por aqui.
Do batismo e da orelha furada, na
mesma linha de raciocínio, chegamos a circuncisão. Em junho, o tribunal de
Colônia passou a considerar ilegal tal prática, quando feita por motivos
religiosos. Uma mãe submeteu o filho à pequena cirurgia em 2010, mas dois dias
depois apareceu desesperada no pronto socorro da cidade porque a criança estava
com sangramento intenso. O médico foi processado, mas liberado com o argumento
de que só realizou a vontade dos pais. Uma baita discussão explodiu entre os grupos
religiosos muçulmanos e judeus. Para a corte alemã, o bem estar da criança e
seu corpo intocado é mais importante que a crença religiosa dos progenitores. Aí vai o
texto na íntegra.
Confesso que não tenho opinião
formada. Não sou mãe, nem religiosa e também não me importo se meus rebentos
serão ou não batizados. Problema deles. Que sejam ateus, macumbeiros, budistas e participem das seitas mais bisonhas, desde que sejam felizes. Os brincos, eu nunca parei para me
questionar. Detesto dores desnecessárias, não tenho tatuagem, nem piecing. E
não é caretice, acho bonito, mas não gosto de me submeter a processos
dolorosos. Questão de custo benefício. Portanto, se meus pais não tivessem
furado minhas grandes orelhas, hoje eu não poderia exibir meus penduricalhos
por aí. Sei lá. Uma americana não se conformava com os debates e falou na mesa
do bar: “eu não sou de família judia, mas todos os homens da minha família são circuncidados”.
Ela também tinha argumentos em relação à higiene e prevenção de doenças.
Continuando com discussões estranhas
que até podem fazer certo sentido, li ontém no TAZ (Tagezzeitung) que o Partido
Verde alemão quer classificar o sexo com animais como crime. Ta aí o link: http://taz.de/Soll-Sex-mit-Tieren-strafbar-sein/!103760/
A ministra da agricultura Ilse Aigner (CSU) acha que basta uma punição em
dinheiro, sem necessariamente criminalizar o ato. Para o PV, a medida não é
suficiente. O artigo 175 da constituição proibia antigamente tanto a sodomia,
tanto o sexo com os bichinhos. Em 1935, os nazistas separam as duas coisas e
criaram o artigo 175b. Com a liberalização sexual em 69, as duas práticas foram descriminalizadas. Nos dias de hoje, a discussão não se trata tanto da moral, mas do sofrimento, dor e da
dignidade animal. O Partido Verde alega até a existência de “puteiros animais”,
embora não haja provas, e de encontros marcados pela internet para abusar das pobres criaturas. A pornografia que expõe os bichos também está na
berlinda.
Sei lá, cada um cada um, mas o que não faltam por aqui são polêmicas
e das mais esquisitas!
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