quinta-feira, 25 de julho de 2013

Auschwitz e seus rostos



                Esta é Czeslawa Kwoka! Eu gostaria de contar sua história, mas não sei absolutamente nada sobre ela. O único fato conhecido é que chegou em Auschwitz em 13 de dezembro de 1942 e por lá perdeu a vida em 12 de março de 1943. Somente três meses! Uma garotinha polonesa de 14 anos, com uma faixa xadrez em torno do cabelo. Qual era sua comida favorita, o que ela gostava de ler e como se distraía nas longas noites de inverno? Será que alguém hoje, em algum lugar do mundo, ainda é capaz de responder tais perguntas? O que sobrou desta criança além de uma foto em um memorial? Visitar Auschwitz é sempre uma experiência estranha e não é bem pelos 110 mil sapatos de prisioneiros ou pelos restos de cabelos cortados das vítimas, mas sim porque lá as pessoas têm rostos. Mais interessante do que a sensação de cruzar o portão de Birkenau e ver os longos trilhos do trem, mostrado por Spielberg na lista de Schindler, é encontrar as imagens das pessoas que (sobre)viveram e morreram ali. Ainda me pergunto se Czeslawa vive na memória de alguém ou se todos que poderiam contar alguma coisa sobre seu jeito, personalidade ou gostos também foram exterminados. Que tipo de mulher ela teria se tornado se tivesse sobrevivido? Apesar de trágico, Auschwitz se tornou um local “turístico”, mesmo que a entrada seja somente acompanhada por um guia em uma visita guiada de 4 horas, nas opções mais enxutas. Há lojas de souvenires, mesmo que só com livros, pequenas coisas para comer ou beber. Por isso, acho importante encontrar rostos, afinal não se trata de 6 milhões de exterminados, mas também da Czeslawa e de seus olhos pretos desolados.

             Desta sua colega (aí em cima) eu sequer sei o nome. Só recordo de seus olhos úmidos e chorosos. Alguns adultos ou mesmo idosos ainda mantinham um olhar firme, um fio quase extinto de dignidade, mesmo que emoldurada. Cabeças raspadas, levemente erguidas, pupilas fitando a câmera como se de algum modo essas pessoas soubessem que ficariam o resto da vida presas naqueles retratos, olhando o que aconteceria ao mundo que fez aquilo com elas. Já outros pareciam mais fracos e tomados pelo cansaço. Embaixo de cada retrato está a data de chegada no campo e da respectiva morte. Tentei evitar um pouco daqueles olhares, todos pendurados naquele corredor, talvez por vergonha do mundo, mas analisava todas as datas. Quando achava eventualmente alguém que resistira por um ano ou um pouco mais, superava o receio e encarava longamente sua imagem. Seria esta pessoa mais forte que as outras, mais resistentes à injustiças? O que ela teria feito para agüentar assim tanto tempo? É possível "comemorar" alguns meses a mais de vida naquelas condições? Sem perceber exclamei, “poxa, que azar!, este aqui faleceu dias antes da libertação”. Envergonhei-me. Talvez aquele prisioneiro nem quisesse ter sobrevivido, já estivesse apático a tudo, mas há sempre aquela sensação de “morrer afogado na beira da praia”.  Será que algum daqueles rostos eram donos de uma das 3.800 malas, muitas marcadas com o nome do “viajante”, dos 12 mil utensílios de cozinha, óculos ou próteses dentárias? Se pudessem escolher, será que elas gostariam de passar a eternidade ali, nos corredores do mesmo local onde perderam a vida, olhando para as curiosas gerações futuras?  


terça-feira, 23 de julho de 2013

Lembranças de Viagem


      É difícil evitar, mesmo no caso dos mais comedidos, não trazer algumas recordações da tão esperada viagem de férias, certo? Mas, em vez de abarrotar as malas com aqueles souvenires chatos, caros e que todo mundo tem, dá para “mirabolar” algumas idéias bem criativas e, o mais importante, sem desperdiçar as valiosas verdinhas. Conheço uma pessoa, por exemplo, que coleciona rótulos de cerveja. Assim, ao degustar uma gelada fora de sua terra natal, o logo da bebida vai direto para a sua carteira. Bacana mesmo é escolher as versões mais locais possíveis, que não sejam exportadas e consumidas mundo afora. Por que não experimentar e guardar depois como lembrança o rótulo da Taybeh Beer, Polar, Glacial ou da Sarajevsko?
        Copos com logos legais também não precisam ser comprados. Tem um monte de garçom generoso que dá de presente aos turistas simpáticos. Um outro casal de amigos teve uma ideia genial para recordar suas andanças pelo mundo. Eles compram vinhos, aqueles específicos para envelhecer na garrafa, trazem para casa e só abrem depois de dez anos, talvez olhando as fotos tiradas durante o passeio. Vale o lembrete: todo recipiente com líquido deve ser despachado na mala! É bom também evitar o Duty Free que não terá uma pessoa para ajudá-lo a escolher a bebida por um valor acessível e ideal para esperar tanto tempo. Mas antes que alguém desconfie da ideia ou do preço desse hábito, dá para encontrar vinhos bons na Europa por coisa de 15 ou 20 euros. A mesma quantia dada a um boné ou uma camiseta! Para quem não é muito chegado em vinho, uma boa pedida são outras bebidas nacionais para sentir o gostinho do país: Pálinkas (um brand de frutas húngaro), Limoncello (licor italiano), Ouzu (bebida grega à base de anis) ou até, por que não?, uma vodca russa ou polonesa!  
         Gosto ainda de trazer jornais com a data que estive na cidade. Independentemente da língua, já que a proposta não é necessariamente lê-los. Colunas inteiras escritas no alfabeto cirílico, árabe, hebreu, chinês ou japonês! Experimente só ler uma revista (mesmo que só as imagens) de trás para frente em Israel! Para que souvenir? Elas estão ali, todas especiais e disponíveis na cadeira do avião! Os mais ousadinhos podem comprar Playboys por aí.  E nada que mexa mais com os sentidos e as lembranças do que uma boa música. Um CD escolhido a dedo de canções locais não ocupa espaço na bagagem e garantirá memórias por um longo tempo. Peça dicas aos moradores da cidade!
          Há coisas ainda mais simples, tiradas da própria natureza. As folhas das árvores ficam vermelhas, bem vermelhinhas, durante o outono Europeu. É só colocá-las entre as páginas de algum livro. E que tal pedrinhas brancas das praias no sul da França, blocos de sal do Mar Morto, um punhado de areia do deserto ou das dunas do Nordeste? Só não vale arrancar tulipas dos canteiros na primavera! Os mercados de rua também são um arsenal de lembranças. Degustou um prato especial, gostou e quer relembrar o aroma daquela iguaria? Corra nos mercadões da cidade e leve os temperos para perfumar o retorno ao lar!

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Spacekid Headcup Weimar


Todo feriado do dia 01 de maio tem passeata de neo-nazista marcada. Tem também os protestos da esquerda para tentar impedir a extrema direita. Aí eles se encontram... Em Berlim, a coisa costumava ficar pesada. Embora esse ambiente não seja lá muito propício para estrangeiros, não dá para morar por aqui e não ir bisbilhotar o que se passa, certo? Uma vez na capital fiquei ao lado do cara com banquinho da Reuters e outro da DPA. Gente neutra. Quando eles saíram correndo, sai atrás. Entrei na estação Alexanderplatz e, em seguida, a polícia bloqueou todas as entradas. Não sei mais o que houve do lado de fora. Peguei o S-Bahn pra bem longe da muvuca, sem pronunciar uma palavra, por via das dúvidas. Semana passada já recebi os email do grupo da universidade que organizava as contra-passeatas em Erfurt, mas não me animei muito não.

sábado, 6 de julho de 2013

Berlim Comunicativa



        Hoje é um daqueles dias que classifico típico da “geração Easy Jet”.  Acordar numa cidade, deixar as malas em qualquer luggage room, andar o dia inteiro, entrar em algum trem ou avião e chegar cansada para dormir em outra capital. A vida anda meio acelerada, o tempo caminha a passos gigantes. De volta a Berlim, custa-me acreditar que já não moro aqui há dois anos. Enfiada na longa e lenta linha U2 sentido Mitte, naquela sensação de “caminho da roça” decidi visitar o museu de comunicação. Não sabia bem onde ficava, mas graças ao meu aparato tecnológico, computador nas costas e smartphone em mãos, achei sem grandes dificuldades a Leipizger Straße. É uma travessa da Friedrichstraße, dava para ter achado sem a ajuda da BVG e seu aplicativo, só perguntando pra alguém mesmo.